Fora toda a dificuldade e angústia que todos nós sentimos ao longo da pandemia e as perdas de entes e amigos queridos, cada um teve também perdas materiais e experienciais. A maior dessas últimas, para mim, foi ter realizado a defesa da minha dissertação on-line.
Sempre imaginei como seria a defesa da minha dissertação: cercada das pessoas que gosto, vestida com uma roupa bem bonita e escolhida com muito cuidado para a ocasião. No intervalo, beberia um café e uma água com gás e aproveitaria para tentar relaxar jogando conversa fora, na porta do prédio administrativo da FFLCH. Quem sabe não teria alguém tocando aquele piano maravilhoso do saguão? Poderia estar sol ou chuva, mas nada disso iria importar, porque, ao final, todos iríamos nos reunir em um lugar bem bacana para celebrar a minha conquista. Seria um momento realmente memorável. Provavelmente, eu iria esquecer de tirar fotos, porque nunca lembro mesmo, mas talvez tivesse alguma para guardar de recordação. Em todo caso, ficaria marcado na minha memória esse dia.
Mas não foi assim.
A parte das pessoas que eu amo estarem presentes foi verdade. Algumas delas estiveram, mesmo. Mas não como eu gostaria. Elas não tiraram o dia de folga e nem se arrumaram para a ocasião. Entre uma reunião ou outra no trabalho, entraram na sala, causaram algum alvoroço na defesa on-line... e só. Nada de café e fofoca no intervalo, nada de nada do que eu havia sonhado.
Mas foi uma defesa linda, com uma banca muito especial. Teria sido melhor presencial? Sem dúvida. No entanto, foi o que foi.
Sofri muito com o fim do meu mestrado, quase entrei em depressão. A terapia me auxiliou nesse processo de me reerguer e me reencontrar. Superar o sonho realizado em meio ao caos (e ainda desse jeito) não foi fácil. Essa experiência acabou afastando de mim a vontade de entrar no doutorado, pois não quero ter a minha última titulação marcada dessa forma. Foi traumático, sim, não ter nada daquilo que sempre presenciei com amigos e queridos de trabalho. Minha comemoração foi só com meu marido e algumas caipirinhas e com mensagens de amigos e familiares.
Todo mundo perdeu experiências e bens materiais com a pandemia. Eu perdi a minha defesa. Hoje, eu encaro de um modo melhor esse episódio. Eu poderia nem estar viva para defender minha pesquisa. Muitas vidas foram perdidas por negligência com a vacina (e naquela época nem tínhamos vacina no Brasil).
Fato é que a USP ficou fechada até o início deste ano. Foi quando me dei conta que não havia o meu diploma físico do mestrado (e precisava ir até lá para buscá-lo). Fiquei cerca de dois meses criando coragem para ir até lá... e nada.
Eis que tive a quarta entorse no tornozelo direito, com rotura ligamentar. Precisei procurar uma fisioterapia esportiva especialista em corrida (conto mais para frente o porquê) e a clínica é em Moema (moro atualmente em Santo André, no ABC). Não posso dirigir e ir e voltar de Uber custa aproximadamente R$100,00, o que é inviável semanalmente. Como moro ao lado de uma estação de trem da CPTM, precisava testar se daria conta de andar de transporte público, para ir até a fisioterapia. Foi então que os planos de ir à USP e aproveitar a viagem para ver os amigos de lá não deu muito certo; precisei ir de supetão mesmo, para avaliar a minha mobilidade e a viabilidade de andar sozinha de trem e de metrô.
Na quarta passada, fui então buscar meu diploma, essa lindeza em cores que deixou o meu diploma de graduação da UFMG (que parece mais um xerox) no chinelo:
Parabéns pela titulação, pelo diploma e pela pesquisa incrível que fez. Infelizmente algumas coisas não saem como a gente sonhou. Mas a gente faz o melhor com aquilo que temos na mão.
ResponderExcluirTenho muito orgulho das suas conquistas e da pessoa que você!