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Artista britânica cria ilustrações de "palavras intraduzíveis"

Quem já estudou um pouquinho que seja sobre teorias de tradução sabe que não existe isso de palavras intraduzíveis. Quem nunca estudou tradução, eu conto pra vocês esse segredinho: não existe isso de palavras intraduzíveis. É claro que nem toda palavra encontrará um referente que também é uma palavra na outra língua. O que acontece, na verdade, é que a equivalência entre palavras de línguas diferentes ocorre em graus e que essas gradações tornam, por vezes, inviável traduzir uma palavra por outra, o que possibilita ao tradutor exemplificar ou explicar o termo, ao invés de empregar um que não é a definição mais próxima do que ele deseja. A magia da tradução está nessa dosagem, nesse controle entre o dito em uma língua e o como pode ser dito em outra. O sentido importa muito. Nos casos em que a forma também é importante, como na poesia, o tradutor está sempre diante de um dilema: forma ou sentido? Alguns poucos tentam manter ambos ao mesmo tempo (esforço dos diabos isso e nem sempre, ou raramente, dá certo); outros optam por um ou por outro, mas essa escolha sempre precisa ser feita conscientemente. 

Há um ditado popular que diz que "uma imagem vale mais do que mil palavras" e, para mim, essa é a ideia principal que eu apreendi do trabalho Untranslatable Words da britânica Marija Tiurina. A ilustradora criou uma série de "palavras ditas intraduzíveis" em várias línguas e o resultado é inspirador. 
Confere só!

Cafuné, do português brasileiro: o ato de correr os dedos pelos cabelos de alguém ternamente.
Gufra, do árabe: a quantidade de água que pode ser segurada em uma mão. 
Schlimazl, do iídiche: uma pessoa com azar crônico.
Duende, do espanhol: o misterioso poder que uma obra de arte tem de tocar as pessoas profundamente.
Tingo, do pascuense: o ato de pegar todos os objetos que você gosta do seu amigo, gradualmente, pedindo emprestado.
Kyoikumama, do japonês: uma mãe que pressiona o filho para que ele tenha um bom desempenho acadêmico. 
Torschlusspanik, do alemão: medo de que as possibilidades diminuam conforme a idade passa.
Palegg, do norueguês: qualquer coisa que você pode colocar em uma fatia de pão.
Age-Otori, do japonês: quando você fica pior após um corte de cabelo.
Luftmensch, do iídiche: refere-se a alguém que é sonhador. Significa literalmente: pessoa aérea.
Baku-Shan, do japonês: uma garota que é bonita desde que você só a veja de costas.
Schadenfreude, do alemão: sensação de prazer ao ver a desgraça alheia.
Tretar, do sueco: “tar” significa uma xícara de café e “patar” é o refil desta xícara. “Tretar” é o segundo refil.
L’appel Duvide, do francês: “a chamada do vazio” seria a tradução literal, mas sua melhor descrição seria descrever o instinto que surge de pular de prédios altos.

Simplesmente encantador, não é mesmo? A minha ilustração favorita é a da palavra espanhola duendeSempre senti falta de um termo para definir esse sentimento fascinante de ser tocado profundamente por uma obra de arte! Mas as de iídiche são também a minha cara, sobretudo a palavra luftmensch: vivo com a cabeça nas nuvens, no mundo da lua! haha

Para conferir mais trabalhos da artista, basta clicar aqui!

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